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Quando “A mulher submersa” emite sua voz



quando escrevi a Mar Becker e disse que queria tocar suas palavras, fiquei com medo de redigir seu nome:


M A R

outro nome para o infinito,


outro nome para a densidade das matérias salinas,


outro nome para os movimentos revoltosos das águas, que nos afundam na espessura verde-esmeralda,


outro nome para a calmaria repetitiva das ondas noturnas, que embala o tempo sem saída,


outro nome para a conjunção vida e morte.

a verdade é que quando escrevi


M A R B E C K E R


já tinha encontrado o cheiro de suas palavras com a brisa que o carrega.


quando toquei com meus olhos as páginas de seu livro, senti penetrar em mim a distância dos silêncios, a ausência que não é vazia.


quando tateei com meus olhos as palavras de seus poemas, avistei nos buracos, vales e montanhas, intransponíveis.


um horizonte longínquo, inalcançável.


e na orelha de Micheliny Verunschk sussurrou Ofélia, a figura que me perturbava como mulher-morta.


uma MULHER SUBMERSA nunca está morta.


o sopro de suas letras é suave, mas o frêmito é indelével.


imprime marcas aquém da história.


o rumor de uma brisa sempre pode ser estrondoso – tudo depende dos silêncios que o acompanham.


quando a fragilidade crava sua força, embarcamos em outro tempo, outro espaço.


é penoso regressar depois do abalo.


as unhas fincam-se no chão, e a força arrasta o corpo no difícil retorno.


soerguê-lo é signo fatal do regresso.


***


nenhuma mulher submersa é sem voz.


em suas palavras feridas, murmúrios da morte e entonações da vida.


Mar Becker auscultou diminutos grãos de vida e morte.


em cada um deles concentrava-se todo o amor capaz de existir.

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